Peguei sua mão, senti a palma áspera contra a minha e entrelacei os dedos como se pudesse mudar algum destino com aquilo. Perguntei pela sétima vez: "consegue ver?".
- Eu só sinto.
Decidi me contentar com a resposta e pensar que era o melhor que podia ter. Continuamos sentados ali, como se fôssemos estranhos aproximados pela distância inexistente em um banco de praça. Mastigava lentamente um chiclete que eu detestava. O som me deixava nervosa e ao mesmo tempo nostálgica por antecipação.
Tentei uma última vez: "tem certeza que não consegue ver?".
- Não, eu só sinto.
E então levantou-se e foi embora. Seus passos foram rápidos e letais, mas para mim pareceram durar uma eternidade e eu tinha esperança de que dessem meia volta a qualquer momento. E de que todas as poucas palavras ditas tivessem outro significado. Na verdade, eu tinha esperança de tantas coisas juntas que é difícil ter certeza do que eu quis realmente.
Eu conseguia ver além. Ele não. Sentiu e foi.
confessional
Há 2 meses