terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Será que está frio em BH?

Ele se foi. Achei que daria tempo de dar um último adeus, um último abraço. De dizer que ele é um bom amigo, e que se não o vi antes é porque não houve tempo. Mas eu não poderia mentir. Não mais. Porque eu arranjei desculpas fétidas. Para não encontrá-lo. Para não encará-lo. Para não ter um outra vez.

Então ele se foi. Meu arrependimento chegou tarde. Quando quis mudar os atos, a cortina se fechou. Me sinto aliviada com sua ida, ao mesmo tempo que dói saber que demorará até que ele volte de novo. Talvez não esteja doendo tanto. Estou tentando me enganar. Porque lá no fundo, eu queria que isso acontecesse. Que não desse tempo.

Ele se foi antes do que eu imaginava. Uma parte minha diz que se ele tivesse ficado mais um pouco, eu o veria essa semana. Outra parte, muito maior, diz que eu arranjaria outra desculpa. Veja só no que me tornei. Quando se quer o abraço de uma só pessoa, não importa quantos abraços te dêem, e quantas intenções eles contenham. No fim, continuará pensando em uma só pessoa. O mesmo acontece com os beijos. Foi assim ano passado. E seria agora de novo.

Eu não consigo. Tive que evitar. Me desculpe.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Diálogos matinais.

Hoje o dia foi programado para dar errado. Fiquei lendo Harry Potter e as Relíquias da Morte até às 3h da manhã, e quando dá 8h a porcaria do interfone toca. Resisto a atender, mas finalmente percebo que só há minha alma viva nesse apartamento. Levanto, procuro meu par de chinelos lilás em vão, e me arrasto até a sala descalça mesmo (coisa que eu detesto).

– Quê – foi assim mesmo que eu atendi.
– É do 204? – perguntou uma voz irritantemente simpática de uma pessoa que eu não fazia idéia de quem era.
Uma onda de fúria tomou conta de mim.
– Não.
Já ia desligando, quando a voz continuou:
– É de onde?
– Não é do 204.
– Como eu faço pra falar com o 204?
Nesse momento, pensei em vociferar todos os palavrões possíveis enquanto meus olhos piscavam lentamente de tanto sono.
– Do mesmo jeito que você ligou para cá. Mas lembra de discar o 4 no final ao invés do 3.
Desligo.

Não importa quantas horas de sono eu tenha, sempre vou acordar mal-humorada, com tudo e com todos. É mais forte do que eu (mas aí vem uma pequena resolução de ano novo: acordar mais alegre - muito difícil). Volto para dormir. Como meu travesseiro é reconfortante quando minhas pálpebras já não resistem mais. Sinto que dormi. Sinto que estou sonhando. Não sei. É prazeroso demais dormir quando não se quer outra coisa a não ser dormir. Mas de repente, não mais que de repente, minha mãe chega em casa mais cedo que o normal, e abre a porta do meu quarto sem nenhuma delicadeza. Tá aí outra coisa que eu detesto. Porque ela faz de propósito! Sabe que eu vou acordar assustada. Porque eu me assusto com qualquer coisa, imagina só com a porta do quarto abrindo de forma bruta, e eu quase dormindo de vez...

– Você não acha que já tá na hora de levantar não? Já são 11h. Vai lá na padaria comprar vinagre pra mim.
Eu realmente tinha dormido mais. Mas o sono ainda era intenso, apenas respondi enquanto procurava a Dolly:
– Hum?
Dolly estava no chão, ah meu Deus.
– Tá surda é? Tô precisando de vinagre.
Poxa vida, mamãe realmente estava brava hoje. Resolvi não tentar competir com ela em termos de irritação, mas não pude deixar de retrucar:
– Mãe, você acabou de vir lá de baixo. Porque é que não já comprou...
Ela saiu do quarto resmungando algo como "esses filhos só têm má vontade com a gente". Desisti e levantei.

Débora está me passando algumas músicas de P.S.: Eu te amo agora. A gente assistiu ao filme semana passada e amamos a trilha sonora. Ela acabou de colocar um avatar do filme no MSN. Temos essa mania, de colocar avatares dos filmes que gostamos. No meu está o de Alguém como você. Não que isso interesse a vocês.

Voltando, desisti de argumentar que ela poderia ter comprado o vinagre antes de subir, e assim eu poderia estar dormindo ainda. Mas tenho um forte pressentimento de que ela me acordaria mesmo se já tivesse comprado. Levantei um pouco mais rápido dessa vez, abri a gaveta e peguei qualquer blusa e qualquer short. Depois de tomar meu café fumegante na minha caneca amarela, desci calmamente, até que me deparei com outra cena irritante: donas-de-casa sem ter o que fazer com seus filhos melequentos, todos sentados no primeiro degrau da portaria do prédio. Gente, pelo amor de Deus. Portaria é um lugar para a passagem de pessoas, e não para sentar e ficar batendo papo. Para esse último existem os inúmeros banquinhos de cimento distribuídos pelo condomínio. É o tipo de coisa que eu simplesmente não me conformo.

Meus olhos reclamam com a intensa claridade sobre eles. Todos que me vêem percebem que eu acabei de acordar. Entro na padaria e... oh não. Pessoas conhecidas para dizer oitudobemtudoevocêtudobemtambém. Bom, não poderia esperar nada além disso, afinal, é a padaria em frente ao meu condomínio. Só que às vezes é um saco cumprimentar pessoas que não se conhece direito quando não se está nem um pouco afim. Nem um pouco mesmo. Por isso que adoro andar sem óculos. Sou míope e simplesmente não enxergo as pessoas. Mas ela estava perto demais, na verdade ela estava pegando óleo do lado do meu vinagre. Droga.

– Oi tudo bem? – a pessoa falou.
– Tudo e você? – tentei parecer simpática, o que pareceu não dar certo.
– Tudo bem também.
Ela me deu uma olhada sinistra e emendou:
– E aí, quando sai o resultado do vestibular?
Pensei em qualquer motivo para ela me perguntar isso. Não achei nenhum.
– Acho que no início de fevereiro... – respondi.
– E aí, está confiante? Dessa vez passa?
Fiquei chocada. Muito chocada. Mesmo.
– Quê?
A pessoa nem percebeu meu espanto.
– Você tentou para qual curso mesmo?
Peraí. Pára tudo. Ela era praticamente minha vizinha e nem sabia que eu já tinha passado no vestibular.
– Hum... eu passei ano passado, já estou fazendo o curso. – juro que tentei ser educada (acho que consegui).
– Ah tá... – ela pegou um pacote de biscoito recheado na outra prateleira. – Tchau!
– Tchau – respondi, forçando um sorriso.

Só depois eu fui perceber que estava com uma camisa de vestibular do Darwin. E, para completar, comprei o vinagre errado.

É.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

It's like rain...

Podia ter sido um dia normal. Aliás, ele até foi bem normalzinho. Se não estivesse caindo aquele temporal quando coloquei meu pé do lado de fora do shopping. Na verdade, eu já sabia que estava chovendo, pois ouvi o barulho forte das gotas caindo no teto. Mas quis ir embora mesmo assim.

É bom saber a hora de ir embora. A hora em que os abraços já não têm mais a mesma intenção, e confundem seus pensamentos. Não, não confundiram, por isso foi melhor ir embora. Na verdade, meus pensamentos jamais poderiam ter sido confundidos através daqueles abraços. Quando se quer o abraço de uma só pessoa, não importa quantos abraços te dêem, e quantas intenções eles contenham. No fim, continuará pensando em uma só pessoa.

Fiquei ali parada, na porta, decidindo se eu voltava e esperava a chuva passar. Mas logo aquele pequeno local começou a lotar de pessoas que também estavam com medo da chuva. Eu detesto tumulto, aglomeração, e tudo o mais que faça pessoas desconhecidas encostarem em mim. Então, segui em frente, até o ponto de ônibus, que também estava lotado. Resolvi esperar na chuva mesmo. Rapidamente meu allstar vermelho encharcou, minha blusa colou no corpo, e dos meus cabelos pingavam gotas e mais gotas. E eu lembrei de como eu gostava daquilo. De tomar banho de chuva.

Senti-me sozinha, não posso negar. É mais divertido quando se está acompanhado. Aí veio algumas lembranças de outrora. Muito antigas. Então aproveitei para pensar um pouco, olhando para o céu, com aquela água escorrendo pelo meu rosto. Pensei em tudo que eu queria dizer para tanta gente e que simplesmente não conseguia. Quis tanto tê-las por perto e dizer. É, às vezes não sou nem um pouco impulsiva. Guardo muitas coisas, e elas vão acumulando, acumulando, até explodirem... nem sempre da melhor maneira.

De repente, não me senti mais sozinha. Meu celular tocou, era uma mensagem de um amigo. E ficamos assim, conversando via torpedo por um tempo, enquanto eu estava no ônibus, enquanto eu estava no terminal, até eu chegar em casa. Tive com quem partilhar os pensamentos, pelo menos. E só ele sabe o que eu queria dizer, e para quem.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

O passado me persegue...

... ou sou eu quem persegue o passado? Acho que a segunda alternativa é a verdadeira, apesar de a primeira ser mais aceitável e fácil de admitir. Eu persigo o passado, e a prova mais incontestável é o fato de, nos últimos dias, eu ter lido todos os meus scraps no orkut. E não eram poucos.

7219. Era o total quando comecei a ler, lá da última página. Ia lendo e apagando os inúteis e menos importantes. Achei ali 3 anos da minha vida. Recados do primeiro namorado, uma amizade desfeita, brigas com o primeiro namorado, amizades feitas, preocupações de amigos, aniversários, primeiro vestibular e o fracasso, segundo vestibular e o sucesso, cefetes, segundo namorado, pessoas, pessoas, pessoas. Eu não tive coragem de deletar tudo, então deixei lá, quietinho. Restaram 2000 e não sei quantos. Deixei lá... para quando der na telha, eu dar uma futucada.

Eu nunca tinha feito isso antes. Não tinha coragem. Achei que ia doer um pouquinho se eu lesse aquela partezinha da minha vida em que eu não fui muito feliz. Ou então aquela partezinha em que fui idiota e magoei quem não merecia. Aquela em que confiei em quem não devia. Aquela em que fui amada de verdade, e eu posso dizer isso quando eu morrer, alguém já me amou de verdade, quando eu tinha 16 anos, e não dei valor à isso. Mas não doeu, sabe. Não doeu porque se o tempo voltasse, talvez eu fizesse exatamente tudo da mesma forma. Digamos que foi um degrau que precisei subir, assim como a cada ano que se passa, temos um novo degrau, e vamos subindo, errando, subindo, e principalmente aprendendo. Chega um momento no qual não dá mais para ficar se lamentando. Ah, eu deveria ter feito isso. Ah, eu deveria ter dito não. Ah, se eu fosse menos idiota. Vai adiantar? Não vai.

É melhor economizar tempo nas lamentações e aproveitá-lo tentando ser feliz de verdade. Esquecer o passado? Não. Ele é o exemplo. O passado sempre estará ali para lhe dizer como seguir em frente. O caminho quem escolhe somos nós mesmos. Se preferimos continuar errando, ou se agimos de maneira diferente. Mas também não dá para viver em função dele. Não quero mais perseguir o passado. Deixa ele aparecer um pouquinho de vez em quando, mas depois ir embora rapidinho. Eu quero um pouco de futuro agora, misturado em boas doses de presente. Afinal, o casaco está velho e precisa de umas costuras novas.