Estava assim sentada, concentrada em cada letra digitada. Uma pequena pilha de livros finos sobre um assunto muito chato ali. Folhas, mas muitas folhas espalhadas, e toda hora sem querer eu pego a errada para ler. Celular no silencioso, a caneca amarela de café cheia. O livro da Clarice Lispector cuidadosamente separado num canto da escrivaninha, me convidando a ler, me obrigando quase. Não posso, respondi. Não agora. Isolei ainda mais o livro, para não se misturar à bagunça. É que o dono pediu que eu cuidasse como minha própria vida. Então tá.
Tem um disquete quebrado aqui por perto, e um DVD de um filme muito legal jogado. Esqueci de guardar na gaveta. Meu desodorante, um par de brincos, e mais folhas e folhas e folhas e páginas com assuntos entediantes. O livro de inglês me encarando me lembrou de não matar mais aula. Também há folhas jogadas em cima da cama, acho que são as que já li e eu não queria que misturasse. Vou dar uma conferida. Depois.
O MSN no ocupado, pedindo para não pertubar se não for extremamente importante em caixa alta. Deixo aberto que é se alguém dos meus grupos precisar de alguma coisa. Mas tem gente que não respeita. Isso me estressa, e o pc trava. Trava porque tenho duas páginas de internet abertas, quatro arquivos de word abertos, e duas pessoas que vieram me perguntar coisas aleatórias. Isso tudo trava, e eu xingo, uma, duas, três vezes, porque toda vez que isso acontece, atrasa minha vida em dois ou três minutos. Contado, dá quase uma hora e meia de atraso na vida no fim do dia.
Meu bloquinho está ali com tudo o que eu tenho para fazer essa semana, 90% para amanhã. Colei uns post-it's no monitor que é para lembrar também. Eu esqueço de olhar o bloquinho. Busco mais café, estou com sono. É que não durmo direito tem quatro dias. Tenho prazos e prazos. Minha mãe diz: Pára de reclamar, que você que escolheu tudo isso. Mas eu reclamo, sim. Adoro reclamar, faz parte de mim. Reclamo cem vezes, e na última eu grito MEU DEUS, PORQUE MEU DIA NÃO TEM 36 HORAS?? Mas no fundo, eu amo tudo isso.
Amo muito tudo isso. Essa frase me dá vontade de comer mc duplo sem picles com coca-cola. Mas eu me refiro à essa minha vida. Eu amo demais. Apesar de tudo.
Nasci para isso.
confessional
Há 2 meses