quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

the world is a rollercoaster

Peguei sua mão, senti a palma áspera contra a minha e entrelacei os dedos como se pudesse mudar algum destino com aquilo. Perguntei pela sétima vez: "consegue ver?".
- Eu só sinto.

Decidi me contentar com a resposta e pensar que era o melhor que podia ter. Continuamos sentados ali, como se fôssemos estranhos aproximados pela distância inexistente em um banco de praça. Mastigava lentamente um chiclete que eu detestava. O som me deixava nervosa e ao mesmo tempo nostálgica por antecipação.

Tentei uma última vez: "tem certeza que não consegue ver?".
- Não, eu só sinto.

E então levantou-se e foi embora. Seus passos foram rápidos e letais, mas para mim pareceram durar uma eternidade e eu tinha esperança de que dessem meia volta a qualquer momento. E de que todas as poucas palavras ditas tivessem outro significado. Na verdade, eu tinha esperança de tantas coisas juntas que é difícil ter certeza do que eu quis realmente.

Eu conseguia ver além. Ele não. Sentiu e foi.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Especialmente: hoje

Escrevi teimosamente, apesar de às vezes a carga da minha solidão me pesar muito. Sentava-me à mesa de trabalho e ficava ouvindo o silêncio que vinha me engolindo. Não conseguia ouvir nada, a não ser um barulho de estalido, mal perceptível, como se algum fio isolado tivesse se partido, e ansiava por descobrir alguma esperança a que pudesse me agarrar.¹


Vou dizer uma coisa: Radiohead é o tipo de música que faz doer a alma. Bem lá no fundo, não tem para onde escapar. Agora imagina quando você sonha algo muito bom. Algo que você realmente queria que acontecesse, e então acorda e vê que ainda continua naquela realidade chata. E sabe que o que aconteceu no sonho jamais será verdade. Isso é triste.

Mas a tristeza maior não é essa parte. Isso passa facilmente, no dia seguinte dá para seguir em frente normalmente. A tristeza maior é ver as pessoas mudando bem debaixo do seu nariz e você não poder fazer nem dizer nada. Ver alguém que você gosta muito se tornar uma pessoa diferente, mudar para pior, e não ter coragem de perguntar: ei, porquê?

Acho que às vezes isso é necessário acontecer. Um pouco de decepção para borrar a imagem que formamos de alguém. Ninguém é perfeito, e está na hora de eu começar a acreditar nisso.


¹Do livro Amor e Lixo, de Ivan Klíma, pg. 66, 2º parágrafo.